Amor é um só. Tá, tem gente que se diz poligâmico. Eu não acredito. Quer dizer, já tive duas paixões ao mesmo tempo, mas com naturalidade meu coração acabou se consumindo por uma só. E eu disse “com naturalidade”, porque paixão não se escolhe. Hoje sou monogâmico e meu coração tem três cores: preto, branco e vermelho. Minha paixão se chama Joinville Esporte Clube (Jec).
Ficar longe desse amor é complicado. Então logo vem o dia da decisão. O dia em que saberia se teria a sua companhia o resto do ano ou só o veria no final de 2009. Os 90 minutos que decidiriam meu humor do ano inteiro.
Para quem está por fora, explicarei. O Jec é uma das quatro forças de Santa Catarina, junto com Avaí, Criciúma e Figueirense. Nos últimos anos, o Joinville não tem demonstrado isso. Caiu da B para a C do brasileirão e ano passado ficou sem divisão. Inventaram uma série D do nacional e Santa Catarina teria direito a duas vagas. Para conseguir a primeira, o Jec precisava vencer a Copa SC do ano passado. Ficou em segundo, perdendo nos pênaltis para o Brusque. Brusque? É, Brusque.
A outra vaga viria do Catarinense. O Tricolor precisava ficar à frente dos clubes que queriam essa vaga: Atlético de Ibirama, Atlético Tubarão, Chapecoense e Metropolitano. Tarefa simples? Não sei. Pelos últimos resultados do Joinville nos estaduais, não se podia ter certeza disso. Começou o campeonato e o Jec demonstrou ser outro. Um time com garra e com muita habilidade. Trouxe confiança. Passou turno. Passou returno. Conseguimos a vaga para o quadrangular final junto com: Avaí, Criciúma e... Chapecoense.
Logo no primeiro jogo, em casa, empate com Criciúma. Segundo, derrota para o Avaí em Florianópolis. Terceiro, derrota para Chapecoense lá em Chapecó. Nesse momento, éramos o lanterna do quadrangular, com apenas um ponto em três jogos. Mas, havia mais três pela frente. Ganhamos da Chapecoense e Avaí em casa, faltava só mais um. O Joinville estava apenas um ponto atrás do time de Chapecó, que jogaria em Florianópolis. O Tricolor não dependia apenas de suas forças para se classificar. O Jec não podia perder para o Criciúma lá no Heriberto Hülse. Além do mais, a Chapecoense não poderia vencer o Avaí na Ressacada. De duas, uma: o Joinville ganhava e o time de Chapecó não vencia ou o Jec empatava e a Chapecoense teria que perder. Derrota do Joinville ou vitória da Chapecoense acabaria com o calendário do Tricolor para o ano inteiro.
Apesar de não ter mais chances, o Criciúma colocou seu time titular em campo. O Avaí, já classificado para final, não queria perder a invencibilidade de 15 meses em seu estádio. Seria um jogo complicado tanto para o Joinville quanto para Chapecoense.
Eu e meus amigos combinamos de assistir o jogo em uma lanchonete no bairro Itaum. Sabia que aqueles seriam os 90 minutos mais agoniantes do ano. Com dois minutos de jogo, gol de Zulu, do Criciúma. “Vamos ganhar”, pensei. Dez minutos depois, gol de Marcelo Silva para o Tricolor. Um a um. Em Florianópolis, continuava: Avaí 0 x 0 Chapecoense. Aos 21, o gol de Rogério Souza trouxe a alegria geral no local. Virada. Criciúma 1 x 2 Joinville. “Acaba, juiz”, comentário com 25 minutos de jogo.
Com o fim do primeiro tempo, ficamos do lado de fora da lanchonete conversando. Pelo celular, um senhor recebeu informações e nos comunicou: “Avaí tá jogando melhor”. O segundo tempo ia começar. Preferi assistir ali de fora, pela janela.
Começo do segundo tempo e logo no início a má notícia: “Em Florianópolis, a Chapecoense faz um a zero”. Puta que pariu, não deu tempo nem de sentar. Um minuto e já uma notícia dessas? Porra! Ainda tinha 45 minutos pela frente. Assisti até os 30 minutos, não conseguia mais ficar ali. Muita ansiedade. Fui dar uma volta. A cada casa que passava, tinha a esperança de ouvir a comemoração: “Aeeee porra, gol do Avaí”. Isso mesmo, estava torcendo por um time que tanto odeio. Quinze minutos andando sem rumo. Chegando à lanchonete, não precisei ouvir nada. As expressões dos que ali estavam já demonstrava tudo. Os resultados permaneciam os mesmo. “Faltam três minutos”, falou Guilherme. Tarde demais, a vitória do Joinville não trouxe a classificação. Chapecoense e Avaí na final. Chapecoense com calendário para o resto do ano. Meu Joinville? Ficará durante sete meses apenas no meu coração. Sete meses sem vê-lo.
Sim, isso me deixa triste. Na verdade, isso interfere significatimente no meu humor durante o resto do ano. Não ficarei completamente feliz sem ver o Joinville jogando. A maioria deve achar isso uma grande besteira. Todo esse sentimento. Toda essa paixão. Mas como disse, amor não se escolhe. Só entende isso, quem sente.
Já na casa do Nalvan, todos queriam esquecer o resultado, mas sempre surgia um desabafo: “Que merda esse gol da Chapecoense”. E logo vinha a resposta: “Porra, tinha que lembrar, né?”. E essa mudança de humor, de alegria e tristeza, durou a noite toda, o dia seguinte, hoje e, certamente, continuará até o momento que eu estiver no estádio, vendo o Tricolor jogando e a torcida cantando: “Meu coração é preto, branco e vermelho...”